Quem me acompanha no Instagram/Facebook sabe que nesse final de semana estava em Spello, na Umbria, região central da Itália para participar da Infiorata, um manifesto artístico e religioso riquíssimo culturalmente mas também em suas técnicas.
Mas o que é a Infiorata você me pergunta: nada mais é do criar tapetes com flores para uma procissão passar durante o Corpos Domini. Apesar de muitos lugares dizerem que a tradição é nata de Roma, na verdade é de Spello mesmo, quando uma senhora, nos tempos das cruzadas, jogou flores na procissão de retorno dos soldados(? – me fugiu o nome).

Essa era a capela/casa da Sonora onde nos encontravamos para despetalar e conversar. Imagina isso em #SP ?
Agora que você já sabe do que se trata vamos para o próximo detalhe: o desenho é impresso e colado no chão, mas o tapete tem que ser interino de flores ou folhas que não podem ser coladas ou coloridas artificialmente, a única coisa que pode ser feita é deixar o sol secar. Ou seja cada cor do tapete é de uma espécie de flor. Trabalham-se texturas e formas. Também quero deixar claro que existem áreas próprias para se colher flor, não é qualquer canto não ta? E que nenhuma parte da flor é desperdiçada, exemplo da Margarida: seu miolo é espremido e se transforma quase em um pó, bem leve com uma cor amarelo queimado.
- SOBRE MINHA AVENTURA –
Fui com uma amiga: a Gaia. Gaia é spellana, e participa da Infiorata desde pequena e esse ano resolveu me chamar para conhecer sua cidade e participar da experiencia. Chegamos por volta das oito horas de sexta-feira, ainda estava claro, deixamos as malas e fomos colher um tipo de folha bordo. Já no começo percebi que não tinha nada de romântico em colher flores.
Esquece todas as imagens do We Heart It, dos filmes e desenhos como “O Pequeno Urso” , tem muito espinho, a grama é alta, tem fungos, mosquitos e é muito cansativo, mas nem suspeitava sabia que o pior estava por vir. Quando o sol estava se pondo, por volta das 22hrs resolvemos ir comer ( A mãe da Gaia cozinha divinamente). A janta foi típica de região mas de forma vegetariana. Teve ravióli com ricota, burata, torta de beringela e tudo uma delicia. Ainda na mesma noite fomos para a praça que faríamos nossa Infiorata (nosso tapete de flores), ficava em frente a casa de Sonora (uma amiga de infância da Gaia).
A casa da Sonora era outra coisa a parte, Spello toda é medieval, todas as casas ali são mais antigas que o Brasil, mas a casa de Sonora em particular era bem exótica. Imagina você morar no que antes era parte da igreja, coladinha, uma das mais antigas? A capela lateral de propriedade da prefeitura, era quase um outro espaço particular. Não tinha altar ou monumentos, só um espaço a mais. E foi ali que ficamos em frente a casa e a capela despetalando as flores. Na manhã seguinte (Sábado 28.05) fomos bem cedo colher ginevras, umas flores pequenas e amarelas que precisávamos para uma parte do Sol, e como eu disse, esquece a parte romântica, é muito ruim. Fomos para o um monte a minutos de Assis (Sim a cidade de São Francisco de Assis) a vista era linda e dava para ver Spello do alto.


Estávamos no meio da vegetação, eu sendo comida por mosquitos (era a única de canela de fora) quando Eleonora desce o monte para pegar o celular e vê algo se mexendo, era uma cobra. Claro que a gente não ta falando das cobras do Brasil, aqui elas são metade, pequenas serpentes, mas mesmo assim venenosas! Não ia me comer viva mas poderia me fazer mal, lembrando que era a única desprotegida na canela. Paralisei de medo e precisava descer toda a colina. Mattia namorado de Gaia me aconselhou fazer barulho, cantar, por que isso ia espantar o animal, foi nessa que comecei a cantar “Um elefante incomoda”. Com passos curtos e temerosos, cheguei ao fim, na relva baixa com o elefante 34, nesse ponto, todos os italianos ali cantavam português comigo.
Voltamos para Spello onde começamos a recortar o desenho impresso, a dimensão daquilo era enorme e não conseguia imaginar coberto de flores. Colamos ele no chão (o desenho é permitido) e fomos dormir por que ficaríamos a noite toda acordadas. Voltamos por volta das sete horas da noite, tomamos um café e demos uma volta pela cidade e fiquei ainda mais encantada e apaixonada. Nesse tempo aproveitei para ir com o Leonardo buscar o vinho e as cervejas da madrugada, na volta ficamos presos no estacionamento que só abria do lado de fora (quem foi que inventou isso?), conseguimos sair e subimos para a praça onde estávamos. Mais tarde depois de despetalar muito, por volta da meia noite, Sonora me chama pra sair. A cena foi como aquelas com catioros, eu fui abanando o rabinho só pensando em sair e conhecer mais alguma coisa, no carro, ela me informa que: Não sabe dirigir o jeep que estávamos e vamos colher ginevras (aquelas que não colhemos suficiente de manha por conta da cobrinha) no meio da estrada. Senti tanto medo, fiquei desesperada, um filme de terror passava na minha mente, não se via um palmo a frente era tudo muito escuro e eu com um micro shorts no calor de 30°C da noite. Depois de um tempo colhendo voltamos para a praça e lá ficamos preenchendo o desenho com flores, bebendo, comendo muito (3hrs da manha foi servido uma pasta, tem noção?) ainda fiz todo mundo dançar Anitta, mostrei funk, e todo mundo balançou a bundinha. Terminamos tudo por volta das nove da manha quando iniciou-se a chover para nosso desespero, mas ainda bem que nadinha aconteceu.
Quando observei nossa arte só podia pensar em duas coisas – Me sentia meio Nail do ArtAtack e também muito orgulhosa da minha equipe, do nosso empenho e dedicação. Não vencemos o concurso mas tudo bem sabe por que? Porque o que eu vivenciei ali era muito alem da arte, era de fato um intercambio, aprendi e vivenciei coisas que dentro do meu ambiente natural jamais seria possível. Eu venci um premio que não tem valor. Participar e interagir com esse mundo que soa paralelo ao meu foi uma das melhores experiencias e vou recorda-la todos os dias da minha vida. A infiorata ficou majestosa, muita rica e precisa, cheia de detalhes importantes e muito imponente perto da maioria. Fui recebida e acolhida por todos e me senti confortável, como se fosse uma spellana nata, por sinal, aprendi o dialeto da região.
O post ta longo, eu sei desculpa, mas espero que você tenha se envolvido no texto e que um dia possa vivenciar algo parecido. Compartilha comigo aqui nos comentarios o que achou.
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