Durante muito tempo me convenci que estar sozinha era a pior coisa que podia me acontecer. Por conta desse pensamento me envolvi em relacionamentos com data de validade prevista e fiz mal a muita gente, que verdadeiramente gostava de mim sofrer, enquanto eu ,egoista, só não queria estar só. Por outro lado também me envolvi com pessoas que não queriam meu mal mas também não me faziam bem. O elo com as algumas pessoas em minha trajetória funcionava quase como uma dependência da minha parte, alguns foram abusivos, já que a pessoa se aproveitou da ocasiao, outros tão ingênuos quanto eu mesma, simplesmente não sabiam como retribuir, por que apesar de reciproco não era tao intenso assim.
Me deixei consumir por ilusões que projetava na esperança que essas relações interpessoais nunca me deixassem só. Por fim depois de um tempo desesperada tive que aceitar a solidão e acolhera como uma amiga.
As pessoas dizem que sou corajosa por ter vindo para a Italia sozinha. Não acho que a palavra seja corajosa, por que qualquer um com a oportunidade que me foi oferta viria, em qualquer condição, mas também não encontro uma palavra para encaixar. Não precisei de coragem em nenhum dos meus dias, vivo uma vida muito confortável e privilegiada (reconhecer é importante), tento pensar em uma forma de retribuir e ajudar sempre. A única coisa que me foi útil e que eu não tinha era o amor próprio.

Com um inverno melancólico e cinza fui obrigada a me suportar todos os dias. Era só eu e eu mesma. No começo foi difícil enxergar qualquer prazer em ser minha propria companhia. Chorei varias vezes no chuveiro, o único local que me permitia chorar de verdade, as lágrias se confundiam com a água, camuflava o ato e o sentimento. Quis estar com minha mãe, quis estar com minhas irmas com meu namorado, queria estar com qualquer um, menos comigo mesma. O inverno na Europa é frio e impiedoso, o vendo gelido rasga tua pele desprotegida e a solidão fazia o mesmo. Senti falta do calor das pessoas ao meu redor, ate que um dia descobri um sol particular.
Era um conjunto de pequenos prazeres: como andar pelada pela casa escutando sua musica favorita por que ninguém vai reclamar. Era rir desesperadamente de um filme enquanto comia sozinha algum doce com muita nutella. Era ir no cinema sozinha e ter a sala toda para você (SIM ISSO ACONTECEU E NÃO TEVE PAUSA NO CINEMA), era deixar a louça para o outro dia e não ter ninguém para reclamar. Era poder demorar cinco minutinhos a mais no banho e dedicar-se a hidratar seu cotovelo, era não precisar dividir uma cama de casal e dormir esparramada a noite inteira. Era não se preocupar em esquecer a toalha e sair se admirando por todo espelho que encontrava. Tomar um café em um bar e observar os hábitos alheios como na cena de um livro. Era andar de bicicleta com fone de ouvidos (por que se você esta andando com outra pessoa é um pouco falta de educação né).

São inúmeros pequenos prazeres que a solidão pode te agraciar desde que você deixe-a florecer dentro de ti. Como qualquer outro tempo, o inverno chegou a o fim e damos boas vindas a primavera. Hoje sou primavera todos os dias quando floreio sozinha me amando, me curtindo e me apreciando.
Claro que não sou autosuficiente e tenho saudade da minha mãe, das minhas irmas do meu boy magia maravilhoso, dos meus amigos, mas agora tudo isso de forma mais saudável. E também não me amo de forma prepotente e egocêntrica, me amo o suficiente para me aceitar e não depender mais de qualquer migalha.
Acho que amadurecer é isso: doses homeopáticas de amor proprio.
Gi