Um dia, em algum momento de uma calorosa discussão, um amigo meu gritou “E você ainda se diz feminista?!” Isso porque de acordo com ele HOMEM (homosexual, mas binario) eu tinha tomado uma postura conservadora a preservar e priorizar de alguma forma a minha relaçao com meu atual noivo ao invés da “amizade” – Ele queria dizer que o Erik de alguma forma me manipulava.
Em um outro momento eu comentei a atitude de uma mulher próxima a mim e a necessidade de como ela expunha o corpo de forma desnecessária, se apoderando de um outro discurso muito importante e tornando vago e banal, a mesma em resposta “E você ainda se diz feminista?”.
Esses são os dois casos mais recentes que meu feminismo foi posto na balança e a questão não é quem está certo ou errado, mas a expectativa que as pessoas tem sobre mim quando me assumo feminista.
E apesar de serem poucas as vezes que isso aconteceu, elas ainda soam na minha cabeça e me deixam inquieta, desconfortável e insegura. Se hoje escrevo esse texto é porque percebo que sou imperfeitamente feminista.
Livros como Mulheres no Poder e Má feminista me fizeram enxergar uma parte importante do todo e aliviar muito esse peso que tinha de ser: A feminista ideal desconstruída e perfeita sem defeitos nunca errou.
Esse trecho do livro Má Feminista descreve bem como venho me libertando, porque afinal o feminismo é também sobre nossa liberdade.
“Justifica-se a imperfeição do feminismo porque ele é um movimento alimentado por pessoas, e estas são inerentemente imperfeitas (…) Não sou perita na história do feminismo. Também não sou, como gostaria, perita na leitura de textos do feministas fundamentais. Tenho alguns… interesses, peculiaridades de personalidade e opiniões que podem não se alinhar com o feminismo tradicional, mas, mesmo assim ainda sou feminista. Não serei capaz de compartilhar com você como tem sido libertador aceitar essa verdade a respeito de mim mesma.” – Roxane Gay.
O feminismo tem um papel fundamental na minha vida e talvez por isso eu goste tanto de ler, escutar, assistir sobre, e mesmo assim, isso não é o suficiente, por que jamais conseguirei pôr em prática com tamanha perfeição se eu mesma de perfeita não tenho nem um cadinho.
De alguma forma quando digo que sou feminista um peso e um rótulo são postos nos meus ombros. Quando digo que sou feminista não quer dizer que sou: 100% desconstruída, 100% paciente, 100% engajada, 100% empática.

É um processo. É bizarro sentir uma cobrança de pessoas que estão mais interessadas em cobrar e questionar que ajudar e tentar compreender de fato.
Feminismo e sororidade não significam que a gente tem que amar e ser amiga de todas as minas do mundo. Não mesmo. Dá pra não gostar, não querer por perto, não concordar, não admirar, não suportar. Mas não dá pra puxar o tapete, desrespeitar.
Eu não concordar com outra mulher não faz dela minha rival. Nós não estamos competindo. E outro detalhe é que o que é bom e certo pra ela talvez nao seja bom e certo pra mim por uma série de questões.
O feminismo não é um guia prático de como ser uma mulher revolucionária em 2019 é sobre: toda mulher dentro do seu recorte reconhecendo seus privilégios ter o poder de decisão sobre como quer viver a própria vida de forma livre sem ser julgada, menosprezada ou intimidada.
A minha intenção com esse texto não é usar de muleta pra ser escrota por aí, não existe desculpa para machismo, homofobia e racismo e que isso fique claro, mas é pra dizer que estou em um processo e algumas questões ainda precisam ser melhores trabalhadas.
”o que vão pensar ?” criatividade e auto-sabotagem
O feminismo entrou na minha vida pela novela O Cravo e a Rosa em 2003, eu amava o cabelo curta da Adriana Esteves e a forma como ela se recusava a ser “vendida” ao Petruchio, a força que ela tinha, me reconheci nela.
Mesmo o feminismo ainda não tendo a popularidade que tinha e eu o conhecimento sobre o movimento, muitas de minhas atitudes eram já baseadas na pouca noção que tinha, eu questionava a repetição comportamental de uma família tradicional machista do Sertão do Nordeste com 5 homens na família.
O feminismo estava lá no meu blog em 2012/13 que se chamava Não sou uma Barbie – onde os padrões já eram questionados e aceitação do corpo era um assunto abordado.
Eu olho para a Giovanna de 2003 e a acolho, por que foram os erros dela que a fizeram buscar respostas, foram as incertezas que a fizeram buscar conhecimento e assim o feminismo é o movimento que me liberta quanto mulher mas também como criadora. O feminismo é parte do meu processo criativo.
Ser mulher é político, ser mulher e se reconhecer feminista são muitas coisas, mas perfeita não é uma delas. E é isso que queria deixar claro nesse texto, nem sempre a gente vai corresponder com as expectativas dos outros.
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